O atendimento docimiciliar sob a ótica da psicologia

Vanessa Travassos Ribeiro dos Santos
Psicóloga do Serviço de Atendimento Domicilar do Prontobaby – Hospital da Criança
Pós graduada em Psicologia Hospitalar

A psicologia, um campo de saber ainda em processo de construção dentro do âmbito do atendimento domiciliar, vem nos destacar a importância da escuta terapêutica tanto com os pacientes e com a equipe multiprofissional quanto e principalmente com familiares-cuidadores, esses particularmente vivenciando um corte em sua rotina e dinâmica de vida, nesse novo tipo de ambiente. A visão psicológica deve ser diferenciada, integral, pretendendo-se com isso facilitar o modo como essa estrutura pode e deve ser pensada e compreendida. O trabalho psicológico deve ser também focado na equipe assistencial, para que a mesma entenda a terapêutica como contínua, efetiva e coerente às necessidades de cada paciente.

Conceitualizando o tema, pela Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – RDC nº 11, de 26 de janeiro de 2006, atenção domiciliar é termo genérico que envolve ações de promoção à saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em domicílio. Assistência domiciliar é o conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas desenvolvidas em domicílio, e ainda Internação Domiciliar, o conjunto de atividades prestadas no domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais complexo e com necessidade de tecnologia especializada.

 

 Entendendo o Paciente em Home Care

Entendendo o Paciente em Home Care Paciente em home care é aquele se encontra estável o suficiente para ser tratado em sua residência, no intuito de beneficiar o binômio paciente-família diminuindo sua permanência hospitalar, minimizando os riscos e efeitos decorrentes dessas internações.   Os pacientes e suas famílias assistidos pelo atendimento domiciliar apresentam peculiaridades próprias que devem ser avaliadas, destacadas e respeitadas por toda equipe multiprofissional que a assiste.

As famílias amparadas por um atendimento domiciliar tendem a apresentar um alto grau de complexidade, devendo ser entendidas por todos os prismas e contextos. Como a transformação na organização e na dinâmica da família impacta e desestabiliza essa estrutura caseira, e em alguns casos corrói essa organização doméstica, há uma repercussão direta ou indireta na homeostase do paciente. 

Segundo Campos (2003), “ainda segundo o conceito de integralidade, as pessoas são encaradas como sujeitos. A atenção deve ser totalizadora, e levar em conta as dimensões biológica, psicológica e social. Este modo de entender e abordar o indivíduo baseia-se na teoria holística, integral, segundo a qual o homem é um ser indivisível e não pode ser explicado pelos seus componentes, físico, psicológico ou social, considerados separadamente.”

Trabalhando a Equipe de Saúde

A psicologia hospitalar define como objeto de trabalho não só a dor do paciente, mas também a angústia declarada da família e a angústia disfarçada da equipe. Um bom trabalho em equipe se dá quando todos estão integrados e concisos no que tange ao bem-estar do paciente, mas também, quando saem do lugar do “saber” e passam a ver o paciente de forma humanizada e não somente como um corpo biologicamente enfermo. O olhar sobre o ser de forma humanizada, há de ser destacado por toda a equipe multiprofissional, compreendendo que muitas vezes a demanda tanto do paciente quanto do cuidador, advém de frustrações e a não aceitação da doença. Geralmente esses cuidadores demonstram desgaste físico e emocional em decorrência do número de atividades desempenhadas, tempo despendido nas atividades de cuidar e pelo próprio desgaste da missão de acompanhar. Fazer a equipe de saúde entender as possíveis posições adotadas pelos pacientes e seus cuidadores, todas as vertentes, vantagens e insatisfações geradas por cada momento dessa internação tornará de mais fácil vivência a dinâmica de cada home care.

Em Manual de Psicologia Hospitalar (Simonetti, 2004), o autor cita alguns cuidados a serem adotados por toda a equipe com os pacientes, sendo um deles um tratamento individualizado onde é esperado conhecer o paciente, entender suas reais necessidades e interesses, e acompanhar o ritmo do mesmo. O genuíno interesse é a própria empatia e compaixão, verdadeiro interesse do profissional de saúde pelo paciente que vale mais do que remédios e técnica terapêuticas.

Assim, uma equipe bem treinada, consciente da sua missão assistencial, com a percepção do ser multifacetado, com o olhar humanizado, voltado não só para a doença, mas para a angústia, o receio e o medo que o desconhecido imputa no ser, minimizará consideravelmente os impactos negativos da doença na vida do sujeito.

 Referências Bibliográficas
Alamy, S. A morte no contexto hospitalar; 1999.
Botomé, S.P & Kubo, O. Formação e atuação do psicólogo para o tratamento em saúde e em organizações de atendimento à saúde.
Camon, A.M. E a psicologia entrou no hospital; 1998. Pioneira
Campos, C.E.A. O desafio da integralidade segundo as perspectivas da vigilância da saúde e da saúde da família. Ciência&Saúde Coletiva 2003; p.577.
Peduzzi, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Revista Saúde Pública. 2001; 35 (1), pp. 103-109.
Romano, W. A prática da psicologia nos hospitais; 1998. Pioneira.
Simonetti, A. Manual de Psicologia Hospitalar: O Mapa da Doença. 2004; São Paulo: Casa do Psicólogo.
Tonetto, A.M & Gomes, W.B. A prática do psicólogo hospitalar em equipe multidisciplinar.